
O Crescimento das ADRs Brasileiros em Meio a Desafios Regulatórios
Malgrado as incertezas provocadas pelo tarifaço de Donald Trump e as implicações da Lei Magnitsky, que causaram flutuações no Ibovespa e resultaram em perdas consideráveis para instituições financeiras brasileiras, o volume de ADRs brasileiros negociados em Nova York continua em alta. Recentemente, essas negociações alcançaram o nível mais alto em dois anos, conforme dados fornecidos pela Economatica a pedido do InfoMoney.
O volume médio diário de negociação é impressionante, atingindo US$ 2,15 bilhões até o início desta semana. Esse número representa a maior marca desde 2022 e corresponde a 40% do volume total diário de US$ 5,37 bilhões registrado na B3, a bolsa de valores brasileira. É importante notar que esse total não considera a movimentação dos dias 19 e 20, que também poderia influenciar esses números.
Para entender melhor esse cenário, basta observar como a média de movimentação das ADRs brasileiras evoluiu ao longo dos últimos anos. Em 2024, o volume girou em torno de US$ 1 bilhão, que representava 30% dos US$ 3,4 bilhões transacionados em ações na B3. Já em 2023, esse volume foi ligeiramente maior, alcançando US$ 1,1 bilhão, o que corresponde a 27% do volume diário de US$ 4 bilhões do mercado local. Em 2022, essa quantia foi de US$ 1,9 bilhão, equivalente a 40% da movimentação total de US$ 4,7 bilhões na bolsa brasileira. Essas informações sinalizam uma consistência no apetite do investidor por ADRs brasileiros no mercado internacional.
Impacto do Investidor Estrangeiro na Liquidez das Ações Brasileiras

As ADRs (American Depositary Receipts) são certificados emitidos por bancos norte-americanos que representam ações de empresas estrangeiras negociadas nas bolsas dos Estados Unidos. Na prática, elas permitem que investidores americanos comprem e vendam ações de companhias de outros países em dólares, sem precisar lidar diretamente com os mercados internacionais. Para as empresas estrangeiras, as ADRs são uma forma de captar recursos e aumentar sua visibilidade no maior mercado de capitais do mundo. Já para o investidor brasileiro, investir em ADRs pode ser uma alternativa interessante para diversificar a carteira, ganhar exposição global e, ao mesmo tempo, se beneficiar da liquidez e segurança do mercado norte-americano.
A crescente demanda por ADRs brasileiros indica não apenas o apetite de investidores internacionais, mas também destaca a dependência da economia brasileira em relação a fatores globais, segundo Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos. Ele explica que as ADRs funcionam como uma espécie de “portal de entrada” para investidores que desejam acessar o mercado brasileiro de maneira mais simplificada. Quando a negociação dessas ações se intensifica no exterior, isso evidencia que uma parte significativa da valorização das empresas brasileiras ocorre em Nova York, e isso potencialmente pode se intensificar futuramente.
Daniel Teles, sócio da Valor Investimentos, complementa que esse movimento reflete uma estratégia dos investidores que buscam exposição a mercados emergentes, mas preferem fazê-lo através de investimentos em dólares. “Os investidores estrangeiros podem estar percebendo riscos maiores em trazer capital direto ao Brasil, especialmente considerando os desafios enfrentados pelos bancos locais e a falta de clareza sobre a direção econômica do país. Assim, investir via ADRs torna-se uma alternativa viável, especialmente em relação a empresas com desempenho financeiro positivo e boas perspectivas de retorno.”
Os Desafios Regulatório e Legal Envolvendo os Bancos Brasileiros
A situação dos bancos brasileiros, que Teles menciona, se complicou ainda mais após decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a aplicação de leis estrangeiras em território nacional. Recentemente, o ministro Flávio Dino decidiu que cidadãos brasileiros não devem ser impactados por legislações estrangeiras referentes a ações ocorridas dentro do Brasil. Tal decisão poderia dificultar o fechamento de contas de brasileiros associados à Lei Magnitsky, que é uma legislação estadunidense relacionada a direitos humanos.
Instituições como Itaú Unibanco (ITUB4), BTG Pactual (BPAC11), Bradesco (BBDC4), Banco do Brasil (BBAS3) e Santander (SANB11) experimentaram uma perda significativa em seus valores de mercado — somando R$ 41,98 bilhões — o que é equivalente ao valor total da Caixa Seguradora (CXSE3). Este desenvolvimento pode aumentar a percepção de risco associada ao Brasil, embora, segundo especialistas, a liquidez dos ADRs de grandes empresas não seja diretamente afetada.
Lima explica que, embora a percepção negativa possa impactar a disposição dos investidores estrangeiros, isso pode levar a uma seleção mais rigorosa, onde ADRs de empresas com boa governança, forte presença internacional e pouca dependência de decisões políticas locais ganham destaque. Portanto, as flutuações nas negociações podem se dar dentro da classe de ADRs, mas não necessariamente como uma fuga generalizada de investimentos.
O Cenário Atual das ADRs e os Principais Players

Fernando Marx, colaborador do TradersClub, expressa que o atual cenário pode afetar a atratividade do Brasil para investidores internacionais, embora ainda não tenhamos visto sinais claros de um desinvestimento em massa. O fluxo de investimento estrangeiro, apesar de estar mais moderado nas últimas semanas, ainda se mantém razoavelmente estável, sem evidência de uma aversão a risco que leve a um colapso repentino. Contudo, essa incerteza também pode impactar as taxas de câmbio do país.
Entre os 10 ADRs mais transacionados em Nova York, apenas dois são bancos, sendo eles Itaú Unibanco, que teve um volume de US$ 168,354 milhões, e Bradesco, com US$ 102,187 milhões, de acordo com um estudo da Economatica. Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3) lideram a lista, demonstrando um forte apelo entre os investidores.
- Vale (VALE3)
- Petrobras (PETR3)
- Itaú Unibanco (ITUB4)
- Bradesco (BBDC4)
- BTG Pactual (BPAC11)
- Banco do Brasil (BBAS3)
- Santander (SANB11)
Esses dados sublinham o potencial dos ADRs e o seu papel como uma ponte entre os investidores estrangeiros e o mercado brasileiro, que continua a oferecer oportunidades, mesmo em meio a desafios regulatórios e econômicos.
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Além disso, se você deseja ampliar seus conhecimentos sobre economia e investimentos, acesse também fontes confiáveis como o InfoMoney e Valor Econômico.